Linhas de Pesquisa

O Programa de Pós-Graduação em Conservação e Sustentabilidade (PPGCS) é composto por duas linhas de pesquisa Biologia da Conservação e Ruralidades e Agroecologia, ambas inseridas na área de concentração Sistemas Socioecológicos em Paisagens Multifuncionais, que se relacionam e se complementam, porém com enfoques teórico-metodológicos próprios.

Biologia da Conservação

A Biologia da Conservação é um campo científico multidisciplinar focado na conservação dos diferentes níveis de organização da biodiversidade. É considerada uma “ciência orientada para a crise”, uma vez que aborda e desenvolve tecnologias e conhecimento para a proteção, manutenção e restauração de processos ecológicos e evolutivos mantenedores da diversidade biológica e dos serviços ecossistêmicos.

A Biologia da Conservação teve grande impulso quando se tornou evidente que a maior parte do planeta estava severamente alterada e, consequentemente, sua biodiversidade encontrava-se ameaçada. Tais ameaças se dão, particularmente, pela perda, degradação e fragmentação do hábitat nativo, caça, introdução de espécies exóticas e pela poluição dos ambientes naturais. Sendo assim a Biologia da Conservação busca amalgamar a ciência “básica” com a “aplicada” com um enfoque aplicado à gestão dos recursos naturais, tendo como base o entendimento de que o ser humano é o responsável pelo manejo de paisagens multifuncionais, onde se produz alimento, se conserva a biodiversidade, se garante a manutenção dos serviços ecossistêmicos, em resumo, se possibilita uma elevada qualidade de vida, ao mesmo tempo em que se conserva a biodiversidade. 

A contribuição desta linha de pesquisa dentro do contexto do programa de pós-graduação aqui proposto, objetiva entender os processos que condicionam a conservação da biodiversidade, bem como produzir conhecimento e novas tecnologias para diagnósticos ambientais, monitoramentos, manejo, recuperação e conservação dos recursos naturais, almejando sua exploração racional e sustentável. Além disso, busca desenvolver estratégias de sensibilização e educação ambiental para questões relevantes para a conservação da biodiversidade, desde temáticas pertinentes à escala global, até questões de impacto regional e local. Sendo assim, busca desenvolver o conhecimento do meio e de sua biodiversidade, visando o planejamento de territórios e políticas públicas de interesse socioambiental.

Ruralidades e Agroecologia

Existe um intenso debate sobre as novas ruralidades no mundo contemporâneo. Sobretudo a partir da década de 1990, este campo do conhecimento vem ganhando novos aportes teóricos e metodológicos para a investigação dos caminhos da reprodução social no meio rural, com ênfase no conceito de agricultura familiar, bem como em suas contribuições às sociedades modernas e para a manutenção e recriação de paisagens multifuncionais e culturais.

Ao mesmo tempo em que aumentam as preocupações com a produção de alimentos saudáveis e energia limpa, com a fome, a segurança e a soberania alimentar, com a proteção ao meio ambiente e à diversidade cultural, os estudos sobre o rural contemporâneo se recriaram. Questões como a gastronomia, a agrobiodiversidade, o turismo e o patrimonialismo recolocam o rural como objeto cultural. Destaca-se a emergência de novas ruralidades, no qual o rural passou a ser visto como lugar de moradia para se ter mais qualidade de vida, que não é isolado dos fluxos de informações da pós-modernidade, mas que possui dinâmica e uma grande variedade de categorias sociais, cujos modos de vida expressam novas identidades sociais, a pluriatividade e a multifuncionalidade.

A noção de desenvolvimento territorial também contribuiu para dar visibilidade aos grupos rurais em seus direitos territoriais e na relação com outros agentes econômicos, o que igualmente impõe novas dinâmicas à sua interpretação. Tais dinâmicas pressupõem análises de processos sociais de dominação econômica entre os agentes do meio rural, do Estado e das empresas e corporações multinacionais dos setores agroalimentar e energético que disputam os territórios e conformam determinadas maneiras de ocupá-los produtivamente.

Nesse cenário, os sistemas naturais se encontram sob constante pressão de modelos de exploração baseados na acumulação por expropriação de terra e recursos naturais, que homogeneizam paisagens, contribuindo para a erosão genética, degradação dos solos e incontáveis processos de poluição dos ambientes. 

Como contraponto às influências dessas dinâmicas de controles e poderes, a agroecologia vem se consolidando como campo científico que estuda os sistemas agroalimentares com vistas a subsidiar caminhos sustentáveis para produção, processamento, circulação e consumo de alimentos. A agroecologia reconhece a agricultura familiar e tradicional como o lócus ideal para a produção sustentável de alimentos, mas igualmente é capaz de propor estratégias de produção sustentáveis em médias e grandes propriedades.

A contribuição da linha Ruralidades e Agroecologia é compreender e ressignificar as ruralidades contemporâneas, o modo de vida e de organização social da agricultura familiar e das comunidades tradicionais, as dinâmicas e disputas territoriais, as políticas públicas e as estratégias de desenvolvimento rural e tecnológico com base na agroecologia, na perspectiva de conciliação entre conservação de recursos naturais e de paisagens multifuncionais, propondo soluções para impactos ambientais ocasionados por atividades agropecuárias e para agregação de valor e crescimento econômico em âmbito territorial.